A Solidariedade

é contagiosa. Contagie e se deixe contagiar. Carlos H. Cadinha

A Autonomia

é uma conquista diária. Lino Macedo

Responsável

é ser paciente, humilde, atencioso e observador. AVB e Emanuel Elias
 

Um Dia de Descobertas

segunda-feira, 25 de abril de 2016

Eu ,Claudia, e minha colega fomos visitar a escola EMEF Pres. Campo Salles que fica no bairro do Heliópolis em São Paulo.


A escola fica dentro do Centro Educacional Unificado, junto com o Céu Arlete Persolie, a ETEC, uma creche, uma escola de ensino infantil, além de quadra, piscina e a torre da cidadania. Tudo isso em um grande espaço arborizado. De cara já gostamos.


Mas por que escolhemos essa escola para visitar? Pois sua metodologia é baseada na Escola da Ponte. Lá na Ponte os alunos não são separados por série. Na Campos Salles eles são, mas assim como na Ponte não tem aula e nem sala de aula. Vou falar da metodologia a seguir e em outro post,  agora quero falar de um homem admirável, o ex-diretor da EMEF Pres. Campos Salles Braz Nogueira. Olhe só o que ele está fazendo na foto abaixo:


Não foi após esse momento que tudo mudou e aconteceu, de uma hora para a outra. Braz já fazia há anos um trabalho de integração da comunidade com a escola. Quando ele chegou na escola, implementou dois princípios: tudo passa pela educação e a escola como centro de liderança da comunidade. E foi para as ruas conhecer a comunidade e as pessoas que nela viviam.  Colocando em prática esses dois princípios começou a Caminhada da Paz após uma estudante do EJA, Leonarda, ser assassinada pelo namorado saindo da escola. A Caminhada está na  18º edição. Também derrubou os muros da escola em 2002, não esses da foto e sim os muros que faziam divisão entre a rua e a escola após vinte e um computadores da escola serem roubados, Braz saiu pelas ruas conscientizando os moradores que os computadores eram da comunidade e não da prefeitura e ia fazer falta para os filhos deles, os computadores foram devolvidos.  O Heliópolis caminhava para ser um bairro educador e agora Braz se tornou uma referência para mim.

Braz quebrou as paredes internas da escola tempos depois também para acabar com o que chamava de síndrome da maçaneta. Já conseguem imaginar o que é isso?! Quando o professor entra na sala, fecha a porta e lá dentro faz o que quiser. Olhem na foto abaixo os salões de estudo não tem porta, como reparou muito bem minha colega.


Foi nesse momento em 2007 que o fazer pedagógico se modificou. Mas antes disso Braz foi fazer pós-graduação e fez um trabalho de conclusão de curso sobre a implementação de uma metodologia de ensino com base nos princípios da Escola da Ponte e foi nesse momento que os três princípios da Escola da Ponte autonomia, responsabilidade e solidariedade foram somados aos dois princípios da EMEF Pres. Campos Salles.

As turmas foram unidas, a escola tem quatro grandes salões. Em cada salão ficam no mínimo três professores,  tem três turmas da mesma série, totalizando 105 alunos. Esse é mais ou menos o número de alunos que tem na Escola da Ponte, lá é período integral. A Campos Salles tem mais ou menos o número de alunos de doze Escolas da Ponte, de manhã estudam os alunos do 5º,6º,7º e 9º ano, de tarde os alunos do 1º,2º,3º e 4º ano e  a noite o EJA. A partir desse ano serão 75 alunos por salão, pois a Prefeitura aprovou o Projeto Político Pedagógico da escola.

Os alunos aprendem trabalhando em equipe de quatro alunos a partir de um roteiro interdisciplinar feito pelos professores. Como nos contou a coordenadora Daniela durante a nossa visita. “Os professores também trabalham em equipe, planejam o roteiro de estudo em equipe, planejam as atividades que ocorreram no dia em equipe. Tem os professores coordenadores dos salões que ficam fixos, e tem os especialistas de Artes, Inglês e Educação Física. Todos os professores são professores de todos os estudantes, qualquer professor pode fazer a intervenção com eles”. São professores polivalentes que trabalham com docência compartilhada. O professor é um pesquisador, ele não segue um material pedagógico, como tanto nos disse nossa professora Maria de Fátima da matéria Fundamentos da Didática para desconfiarmos de material prescritivo.“Existem muitos no Brasil e quem segue manual não pensa, o professor tem que ter autonomia”. Na escola Campos Salles eles tem. Que maravilha! O professor é autor do que está fazendo e tira o aluno do lugar que ele está, agrega conhecimento.

E tem mais, os temas dos roteiros são escolhidos  através de votos dos estudantes em Assembleia. Para isso os alunos fazem atividades em grupo para discutir o que querem estudar. Daniela disse: “Dentro desses  temas os professores olham quais são os direitos de aprendizagem que serão contemplados, quais os conteúdos”. Outra coisa dita por Daniela coordenadora da escola  que não posso deixar de colocar aqui. “O estudante é um ser que está em formação, integral.  Não é só aspectos cognitivo, intelectual, considera o estudante e seu aspecto emocional, físico, psicológico, com suas questões em casa”. Sobre a concepção de escola ela disse: “É articulada com a comunidade. É aberta. Não é para a comunidade é da comunidade”.

A preocupação e muito trabalho é feito para que as paredes invisíveis não voltem.

Fiquei feliz em saber que o documento sobre o direito de aprendizagem* que está sendo analisado pelo Conselho Nacional de Educação vai de encontro com a concepção da escola Campos Salles mais do que vai de encontro com escolas tradicionais.

Saí de lá com a certeza de que é possível não dar aula e ser professor. Entendendo que para que algo mude é necessário coragem e atitude, como as que Braz teve durante todos os anos que foi diretor da escola EMEF Pres. Campos Salles.

* Direito de aprendizagem é um documento que está sendo elaborado pelo Ministério da Educação. O nome completo é Os Elementos Conceituais e Metodológicos para Definição dos Direitos de Aprendizagem de Desenvolvimento do Ciclo de Alfabetização (1º, 2º, 3º anos) do Ensino Fundamental definirá o que os estudantes devem aprender. Pretende auxiliar as redes de ensino na criação dos currículos e garantir uma base comum às escolas brasileiras.

Nada melhor agora do que ouvir Braz Nogueira. Segue o vídeo: 


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